sábado, 28 de abril de 2012

Triangulação - pesquisa qualitativa

Triangulação - pesquisa qualitativa


O conceito de triangulação na pesquisa qualitativa é utilizado para indicar a combinação de diferentes métodos, perspectivas de metodológicas, grupos de estudo, ambientes locais e temporais e perspectivas teóricas distintas no tratamento de um fenômeno. Por exemplo, ao projetar um estudo, você pode querer perseguir as origens dos dados de múltiplas maneiras. Diversificar fontes dos dados e meios da interpretação tem a finalidade de aumentar a credibilidade da pesquisa, pois as falhas de um método são freqüentemente os pontos fortes de outro, e pela combinação de métodos, os observadores podem alcançar o melhor de cada um e ultrapassar as respectivas deficiências (HATCH, 2002; FLICK, 2004).
Desse modo, o processo de triangulação tem como objetivo aumentar o rigor e a profundidade da investigação, reduzindo o risco de distorções sistemáticas inerentes à utilização de uma única fonte de informação, de um único método de recolha de dados ou de interpretações provenientes de um único pesquisador (FLICK, 2004).
A utilização de diferentes fontes de informação (professores, alunos, documentos, aulas...), múltiplos métodos de recolha de dados (entrevista, observação, questionários, análise de planos de aula e de materiais didáticos) e uma análise de conteúdo efetuada por mais do que um pesquisador permite assegurar uma elevada validade interna da pesquisa.
Por exemplo, através da observação de aulas e da realização de entrevistas aos alunos o pesquisador deve procurar ultrapassar as possíveis distorções impostas pela forma como os professores descrevem as suas práticas de sala de aula. Posteriormente, a análise simultânea do conteúdo das diversas fontes de informação (respostas aos questionários, transcrições de entrevistas e documentos elaborados pelos participantes) por dois pesquisadores, seguida pela discussão das diferentes interpretações, pretende reforçar a riqueza do processo de análise e interpretação de dados. Não se espera que os pesquisadores construam interpretações idênticas dos mesmos fenômenos; o importante é a obtenção de consenso relativamente à aceitabilidade e plausibilidade das diferentes interpretações sugeridas (LUDKE e ANDRÉ, 1886).
Minayo (et al., 2005) diz que uso da triangulação exige a combinação de múltiplas estratégias de pesquisa capazes de apreender as dimensões qualitativas e quantitativas do objeto, atendendo tanto os requisitos do método qualitativo, ao garantir a representatividade e a diversidade de posições dos grupos sociais que formam o universo da pesquisa, quanto às ambições do método quantitativo, ao propiciar o conhecimento da magnitude, cobertura e eficiência de programa sob estudo.
Em Denzin (1978) citado por Dezin e Lincoln (2001) a triangulação é dividida em quatro tipos: de fontes, de métodos, de pesquisadores e de teorias.
A triangulação de fontes refere-se ao uso de diferentes fontes de dados, e não deve ser confundida com o uso de métodos distintos para a produção de dados. Como "subtipos da triangulação dos dados", Denzin faz uma distinção entre tempo, espaço e pessoas, sugerindo que o fenômeno seja estudado em datas e locais distintos e a partir de pessoas diferentes. Nos dois casos, o ponto de partida é o envolvimento intencional e sistemático de pessoas e grupos de estudo, de ambientes locais e temporais no estudo.
O segundo tipo de triangulação descrito por Denzin (1978) é a triangulação do pesquisador, na qual há o emprego de diferentes observadores ou entrevistadores para detectar e minimizar as visões tendenciosas resultantes da condição da análise dos dados.
A triangulação da teoria é a "abordagem de dados tendo-se em mente perspectivas e hipóteses múltiplas. Neste sentido, vários pontos de vista teóricos poderiam ser dispostos lado a lado no sentido de avaliar sua utilidade e poder" (Denzin, 1978). Contudo, a finalidade desse exercício é estender as possibilidades de produzir conhecimento.
Como quarto tipo, Denzin menciona a triangulação metodológica. Na qual pode ser diferenciada em dois subtipos: a triangulação dentro do método e a triangulação entre um método e outro. Um exemplo da primeira estratégia é o uso de sub-escalas diferentes para medir um item de um questionário e, da segunda, é a combinação do questionário com uma entrevista semi-estruturada.
A triangulação de métodos, como uma estratégia de diálogo entre áreas distintas de conhecimento, é capaz de viabilizar o entrelaçamento entre teoria e prática, e de agregar múltiplos pontos de vista seja das variadas formulações teóricas utilizadas pelos pesquisadores ou a visão de mundo dos informantes da pesquisa. (MINAYO et al., 2005).
O pesquisador pode utilizar a triangulação como uma abordagem para embasar ainda mais o conhecimento adquirido através dos métodos qualitativos. O embasamento aqui não significa avaliar os resultados durante sua pesquisa, mas ampliar e completar sistematicamente as possibilidades de produção do conhecimento. A triangulação representa mais uma alternativa para a validação -que amplia o escopo, a profundidade e a consistência nas condutas metodológicas - do que uma estratégia para validar resultados e procedimentos.
Além destes tipos, Janesick (1994) adicionou um quinto tipo: triangulação interdisciplinar. Este tipo de triangulação envolve o uso de mais de uma disciplina em um único estudo. Por exemplo, um pesquisador da área de assistência social poderia colaborar com psicólogo, sociólogo, antropólogo, ou historiador.
Finalmente, uma nota de precaução. Enquanto muitos pesquisadores são bastante pragmáticos e tendem a ser partidários da aproximação triangular em suas pesquisas, há muitos cientistas sociais que não acreditam que a verdadeira triangulação é realmente possível. O próprio Denzin em suas notas insinua que métodos diferentes freqüentemente aproximações teóricas diferentes. Já pesquisadores que concordam fortemente com uma aproximação extremamente quantitativa ou qualitativa de pesquisa a não concordaram que seja possível ser combinadas em um único projeto de pesquisa aquelas posições qualitativas e quantitativas, poderão ser combinadas dentro de um único projeto de pesquisa.

Referências bibliográficas:
DENZIN, N.K., LINCOLN, Y.S Handbook of Qualitative Research. Hardcover: Sage Publications Inc, 2000, 1143 pg.
FLICK, U. Uma introdução a pesquisa qualitativa. 2 a.ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.
HATCH, J. A. Doing Qualitative Research in Education Settings. Hardcover: SUNY Press, 2002. 320 pg.
LUDKE, M. e ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária 1986.
MINAYO M.C.S., ASSIS S.G., SOUZA E.R., organizadoras. Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2005. 244 pg.
PATTON, M.Q. Qualitative Research & Evaluation Methods. Hardcover: Sage Publications Inc, 2001. 688 pg.
JANESICK, V. J. The Choreography of Qualitative Research Design. In N. K. Denzin & Y. S. Lincoln (Eds.), Handbook of qualitative research. Thousand Oaks, CA: Sage. 1994.


Elisangela Matias Miranda


 

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