Na história da
educação brasileira o ensino médio e a educação profissional vêm sendo marcados
por políticas, programas e ações que traduzem a secundarização dessa etapa e
modalidade da educação básica, expressa nas políticas de priorização do ensino
fundamental, e um forte dualismo estrutural, reforçado nas políticas da década
passada e na edição do Decreto nº 2.208, de 1997, com desdobramentos no campo
educativo.
Nos últimos
anos, novas políticas foram direcionadas à educação básica, em todas as etapas
e modalidades. Lembre-se a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), em
vigor desde janeiro de 2007, a aprovação da Emenda Constitucional nº 59, de
2009, que aprova a ampliação da obrigatoriedade, propondo a universalização na
educação de 4 a 17 anos, até 2016. E, especialmente no ensino médio e educação profissional,
a aprovação do Decreto nº 5.154, de 2004. Todo esse processo, apesar dos
avanços legais, traduz a complexidade e a busca de organicidade das ações, programas
e políticas, de modo a garantir a universalização do ensino obrigatório de 4 a
17 anos, até 2016.
O ensino médio,
com a cobertura educacional insuficiente, evidenciada por baixas taxas de
matrícula bruta e líquida e pela histórica dicotomia com a educação
profissional, remete a graves problemas e desafios para a democratização do
acesso e a permanência com qualidade nesta etapa/modalidade da educação básica
para todos. O objetivo deste dossiê é, portanto, contextualizá-los, assim como
traçar as perspectivas para o ensino médio e a educação profissional, situando
os marcos da produção acadêmica da área, os avanços legais, os limites e a
necessidade de realização das políticas, programas e ações, e das proposições e
reflexões, para que se supere o dualismo estrutural neste nível/modalidade, a
partir de uma concepção mais orgânica de formação, de modo a garantir condições
objetivas para a obrigatoriedade e a
universalização
do ensino médio e sua integração à educação profissional.
Essas questões
se apresentam de modo emblemático, no movimento atual de tramitação do Plano
Nacional de Educação (PNE), PL. nº 8.035 de 2010, proposto com 20 metas e 170
estratégias, bem como nas 2.915 emendas encaminhadas ao PL, traduzindo, em
especial, o esforço das entidades da área educacional pelo avanço das políticas
que garantam a universalização da educação básica para todos, com a garantia de
qualidade social, e pela organicidade dessas políticas, programas e ações, além
do fortalecimento do pacto federativo, por meio da regulamentação do regime de
colaboração entre os entes federados. Por isso, no novo PNE, é preciso
assegurar mais correspondência entre as políticas, o financiamento e a gestão
na educação nacional.
A partir de
várias reflexões e análises, esta edição de Retratos da Escola busca, assim, contribuir
com a avaliação do estado atual do ensino médio e da educação profissional, bem
como indicar proposições, para romper o dualismo estrutural ainda presente
neste nível/modalidade da educação profissional.
Em consonância
com sua proposta editorial, Retratos da Escola reitera as seguintes seções:
Entrevista, Artigo, Resenha e Documento.
Na Entrevista,
convidamos um gestor e dois professores/pesquisadores cuja história e
trajetória, na discussão e reflexão sobre políticas direcionadas à educação
básica, especialmente ao ensino médio e educação profissional, contribuem para
iluminar questões e para repensar este nível/etapa da educação básica.
Na seção
Artigos, as temáticas descortinam avaliações e análises sobre as políticas, gestão
e financiamento do ensino médio e educação profissional, indicando seus limites
e possibilidades. As reflexões lançam questões desafiadoras à construção de novos
marcos para a educação nacional. E os artigos convergem para a necessidade de
mais organicidade entre as políticas, os processos de organização e gestão e de
financiamento, pela melhoria e democratização do acesso e a permanência com
qualidade para todos/as, incluindo a garantia da universalização da educação
obrigatória de 4 a 17 anos, até 2016.
Na seção
Resenha, foram abordados os livros 1) O Plano Nacional de Educação (2011-2020):
avaliação e perspectivas e 2) Políticas públicas e educação, regulação e conhecimento.
Ao problematizarem as políticas, processos de regulamentação e regulação, as
duas obras contribuem para a compreensão das tensões, limites e perspectivas da
educação nacional. Finalizando este número, na seção Documento, em “Os riscos
do Pronatec para a educação técnica profissional”, a Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Educação (CNTE) apresenta sua avaliação sobre o Programa
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e sua tramitação na
Câmara dos Deputados.
A capa da edição
“escolha” é de autoria do arquiteto e artista plástico Carlos Alexandre Lapa de
Aguiar e nos remete aos complexos questionamentos e dúvidas referentes aos
processos formativos, as novas tecnologias e os processos de trabalho.
Trata-se de
expressão artística de grande relevância num contexto de mudanças e incertezasque demarcam as novas formas de sociabilidade e o pensamento contemporâneo.
Nossa
expectativa é que este dossiê contribua para a avaliação do estado da arte do
ensino médio e educação profissional, descortinando novos horizontes para esta etapa
e modalidade da educação básica.
Luiz Fernandes
Dourado
Editor
Nenhum comentário:
Postar um comentário